Investindo em robótica: por que agora pode ser o momento certo

• Robôs existem há décadas; no entanto, as recentes inovações tecnológicas em áreas como sensores, conectividade 5G, computação em nuvem e inteligência artificial estão acelerando intensamente os recursos e a adoção
• A fabricação industrial e a logística lideraram a adoção da robótica – acreditamos que pode haver espaço para crescimento contínuo aqui, com mais aplicações em saúde e serviços
• A inflação salarial, a escassez de mão de obra, as tendências demográficas e a transformação da cadeia de fornecimento são catalisadores divisores de água e podem acelerar a demanda por anos
• Os investidores que procuram exposição à robótica podem querer considerar os ETFs que visam a cadeia de valor da robótica, de empresas que desenvolvem tecnologias facilitadoras às que fabricam robôs

“Me companhe se quiser limpar.”

A palavra robô remete a 1920, quando o dramaturgo tcheco Karl Capek a introduziu na sua jogada de sucesso, "Robôs Universais de Rossum", um espetáculo que retratou robôs tomando o mundo.¹ Apesar da visão arrepiante de Capek (e de inúmeros dos nossos filmes favoritos que seguiram o mesmo tema – de Metropolis a Matrix), os robôs coexistiram ao lado dos humanos por décadas sem uma revolta cinematográfica.

O primeiro robô industrial foi lançado pela General Motors em 1959; "Unimate", era um braço hidráulico que executava tarefas repetitivas, como soldagem.² Sete anos mais tarde, robôs mais simpáticos surgiram na cultura pop quando "Unimate" apareceu no The Tonight Show com Johnny Carson para jogar golfe. (Confira o clipe!)

A medida que a tecnologia se tornou mais poderosa, eficiente e barata, os robôs se tornaram mais onipresentes. Na verdade, as vendas de robôs na América do Norte atingiram recordes por três trimestres consecutivos.³ Vimos também uma gama de robôs entrar no nosso dia a dia: eles aspiram pisos, cortam grama, preparam a xícara de café perfeita e até nos fazem companhia. (O aspirador e o esfregão deste autor se chamam Rick e Rachael – como os protagonistas de Blade Runner. Os dois limpam e me fazem companhia, mas ainda não se sabe se eles sonham como ovelhas elétricas.) Embora o medo de uma tomada robótica de poder seja compreensível, a sua ascensão é tudo menos um jogo de soma zero. Na verdade, a automação está combatendo a interrupção e a inflação da cadeia de suprimentos, permitindo que os funcionários se movam mais rapidamente e se concentrem em tarefas de mais valor.

Já podemos ver quatro fatores principais que impulsionam a adoção da robótica:

• progresso tecnológico
• tendências demográficas,
• economia e
• geopolítica

Olhos limpos, corações repletos

A robótica está na interseção de várias tecnologias inovadoras, como sensores, conectividade 5G, computação em nuvem e inteligência artificial.

Os sensores podem ser considerados os olhos dos robôs, permitindo que eles avaliem o ambiente ao redor, incluindo luz, temperatura e proximidade de outros objetos. À medida que os robôs se tornam mais amplamente usados fora das linhas de montagem, a sua capacidade de navegar por ambientes não estruturados e em constante mudança se torna cada vez mais importante. A tecnologia lidar (detecção de luz e alcance), ativada por sensores, permite que um robô reúna dados de imagens 3D para fins de mapeamento e classificação de objetos.⁴ Atualmente, temos visto sistemas lidarem com a capacidade de enxergar mais de 1.000 m à distância, quase cinco vezes mais do que os sistemas anteriores.⁵ Esse recente avanço tem implicações positivas significativas para robôs autônomos, aumentando a sua capacidade de operar com segurança com os humanos.

A computação em nuvem e a conectividade 5G estão permitindo que os robôs processem e acessem mais dados. Para que alcancem todo o seu potencial, os robôs devem ser autônomos e capazes de ser controlados de qualquer lugar. O enorme poder de computação exigido por bots sofisticados requer a nuvem, pois o hardware físico necessário para armazenar dados localmente, dentro do robô, seria impraticável do ponto de vista do projeto e do custo. O robô deve então ser capaz de "falar" com a nuvem em tempo real, transferindo grandes quantidades de informação com baixa latência, o que significa que as redes 5G estão permitindo mais dados e recursos.⁶ Com 70% das unidades construídas antes do século XXI, os depósitos devem gastar significativamente na infraestrutura digital para permitir que as frotas de robôs se comuniquem. Na verdade, a utilização de energia do setor industrial poderia crescer mais que duas vezes mais rápido que qualquer outro setor imobiliário na próxima década.⁷

Por fim, o progresso em três tipos de inteligência artificial: aprendizado de máquina, processamento de linguagem natural (NLP) e IA de conversação são as chaves para desbloquear sensores e o verdadeiro potencial da conectividade.⁸ O aprendizado de máquina permite que os robôs usem dados coletados de experiências anteriores para desenvolver novos recursos e resolver problemas exclusivos. Vejamos Rick, o aspirador de pó robótico: ao mapear o apartamento, ele identifica áreas problemáticas, como escadas e móveis, e as evita em limpezas futuras. A NLP permite que os robôs entendam a linguagem humana e é aproveitada em todos os setores, como varejo, por meio de quiosques de check-out sem toque ou alto-falantes inteligentes em casa. A IA de conversação é a versão mais avançada da NLP e permite que os robôs interajam de forma mais humana. Por exemplo, restaurantes fast-food aproveitaram a IA conversacional para cumprimentar os clientes, receber pedidos e fazer sugestões de menu.⁹ Todos esses avanços tecnológicos estão, sem dúvida, tendo seus maiores impactos em dois segmentos principais que impulsionam a adoção: logística e saúde.

Menos acidentes e melhor atendimento

Vemos dois principais segmentos da economia que impulsionam a adoção da robótica a curto prazo: logística e saúde. Como o tempo de espera em pedidos de e-commerce diminuiu de semanas para dias, para horas, as empresas devem encontrar maneiras seguras e econômicas de automatizar depósitos. 80% dos operadores de depósitos concordam que terão de contar com mais automação no futuro.¹⁰ Hoje, os robôs são amplamente utilizados para mover o inventário pelo depósito de maneira eficiente e segura. Esses robôs, conhecidos como AMRs (robôs móveis autônomos), são como carros autônomos. De agora em diante, os robôs serão utilizados para "selecionar pedidos", ou seja, encontrar o item dentro do depósito e trazê-lo para a estação de embalagem. Os seres humanos não são particularmente bons na seleção de pedidos. Os robôs reduzem as taxas de erro do depósito em até 67%.¹¹ Além disso, eles ajudam a diminuir a quantidade de acidentes em depósitos: hoje, mais de 200 mil acidentes não fatais em depósitos dos EUA causam dor e sofrimento aos funcionários, além de custos financeiros superiores 84 milhões de dólares por semana para as empresas.^12,13

Da mesma forma, a saúde poderia recorrer mais à robótica, com o aumento do uso em cirurgia, enfermagem e limpeza. Os procedimentos cirúrgicos assistidos por robôs oferecem benefícios para médicos e pacientes, e tendem a melhorar os resultados. Normalmente, um robô cirúrgico tem um braço com uma câmera, dando ao cirurgião uma visão da área afetada com ampliação de até 10x em comparação ao olho humano. Um segundo braço robótico segura instrumentos cirúrgicos, possibilitando um grau de precisão e firmeza que as mãos humanas não conseguem proporcionar – as incisões menores melhoram os resultados e diminuem os tempos de recuperação – reduzindo a dor, a perda de sangue e a formação de cicatrizes.¹⁴ A cirurgia robótica se tornou particularmente importante para procedimentos urológicos e ginecológicos, que compõem cerca de metade dos procedimentos robóticos atualmente. No mundo todo, cerca de 3% das cirurgias são realizadas roboticamente, deixando um enorme caminho para o crescimento.¹⁵

Os robôs de enfermagem também veem a crescente demanda em um momento em que a escassez de enfermagem é terrível, com 1,2 milhão de novos enfermeiros registrados necessários nos EUA até 2030.¹⁶ Robôs auxiliam os enfermeiros realizando tarefas demoradas, como entrega de medicamentos, coleta de amostras de laboratório e verificação de sinais vitais.¹⁷ Espera-se que o mercado de enfermagem robótica cresça mais de 22% ao ano até 2026, atingindo mais de 2 bilhões de dólares em vendas anuais.¹⁸

Os robôs estão aqui para ajudar

Nos últimos 30 anos, o custo médio de um robô industrial caiu 50%,¹⁹ o que aumentou a acessibilidade da adoção. Com a inflação salarial em alta histórica nos EUA,²⁰ o custo de equilíbrio para a nova instalação robótica caiu drasticamente. Ao contrário do que as pessoas pensam, os robôs não estão sendo utilizados para substituir os trabalhadores de fábrica, mas para libertar esses funcionários, para permitir que se concentrem em tarefas nas quais agregam mais valor. Um estudo recente do Institute for Operations Research and the Management Sciences mostrou que "os investimentos em robótica estão associados a aumentos no emprego total da empresa".²¹

De uma perspectiva demográfica global, a porcentagem de pessoas acima de 60 anos praticamente dobrará entre 2015 e 2050, de 12% a 22%.²² Uma população mundial envelhecida significa uma crescente escassez de mão de obra, tornando necessários investimentos em robótica em diversos setores. Talvez, sem surpresa, países como a Coreia e o Japão, ambos enfrentando declínio populacional, tenham algumas das maiores densidades de robôs na manufatura.^23,24 Outros países do mundo todo enfrentam desafios demográficos semelhantes que provavelmente levam a mais uso da automação.

Por fim, a pandemia e a geopolítica impulsionaram o "onshoring". Uma combinação de interrupções na cadeia de fornecimento, conflito geopolítico e incentivos para a fabricação doméstica nos EUA, como a Inflation Reduction Act (Lei de Redução da Inflação) e a Chips and Science Act (Lei de Chips e Ciência), tornaram o processo onshoring mais atraente. Na verdade, em 2022 as empresas dos EUA estão quase batendo o recorde de 350.000 empregos.²⁵

Nos EUA, a confluência das necessidades de onshoring, uma taxa de desemprego de 3,5% e uma escassez de mão de obra de quase 4 milhões de pessoas²⁶ está levando as empresas a recorrer à automação. Na verdade, as empresas norte-americanas encomendaram 11,5 mil robôs no primeiro trimestre de 2022, colocando este ano no caminho para superar os números recordes do ano passado.²⁷

Mas o onshoring é apenas uma parte da história. Da América Latina à Europa Oriental, o investimento também está sendo conduzido por nearshoring, com países e empresas investindo em robótica para preencher as lacunas de custos de produção em vez de mão de obra de baixo custo mais longe.

Três tipos de pessoas: as que entendem binário e as que não

Os investidores que procuram acessar empresas de robótica podem considerar os ETFs que mantêm empresas puras em toda a cadeia de valor da robótica, visando tanto os desenvolvedores robóticos quanto os facilitadores de tecnologia:

Desenvolvedores de robótica: empresas que fabricam robôs para diversos usos finais, incluindo robôs para o lar, saúde e indústria.

Capacitadores robóticos: empresas especializadas no desenvolvimento de tecnologias como modelagem 3D, sistema de visão e controle de movimento que permitem robôs cada vez mais sofisticados.

Cem anos após a formação do termo "robô", avanços tecnológicos, novos casos de uso, bem como forças econômicas e demográficas, estão dando vida à ficção científica cada vez mais. Na nossa opinião, as pessoas que procuram investir em robótica talvez queiram considerar os ETFs que proporcionam exposição a ações puras em toda a cadeia de valor do tema.